Não é um tema fácil – A Morte – mas esteve em reflexão, sob a forma de um congresso de âmbito internacional – I Congresso Internacional “A Morte: Leituras da Humana Condição” – promovido pelo IEAC-GO, na cidade de Guimarães, de 21 a 24 de fevereiro.
Na sessão de abertura, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, posicionou o tema da Morte enquanto tabu, para uns, e, para outros, mistério. Daí o impacto e a ousadia da iniciativa.
Eugénia Magalhães, presidente do Instituto de Estudos Avançados de Catolicismo e Globalização (IEAC-GO), entidade organizadora do Congresso Internacional, relembra a forma como o congresso foi sendo recebido: “Foi entre o espanto e a alegria, a rejeição e a curiosidade, a necessidade e a vontade expressas em tantos rostos e palavras dos vários universos sociais que este Congresso foi ganhando forma”.
Em três dias, a Morte foi o tema em destaque analisado sob diversas perspetivas, em mais de uma dezena de áreas temáticas. A manhã do quarto dia, no domingo, juntou-se a outros momentos de um programa cultural diário que se apresentou também vasto e diversificado.
Em jeito de balanço final, Eugénia Magalhães, que também presidiu à Comissão Organizadora, não tem dúvidas que foram cumpridos três dos principais propósitos e desafios que levaram à decisão de realização do Congresso: “A opção por um tema pertinente; a aposta, inédita, no nosso entender, de uma abordagem multidisciplinar, porque sentimos que temos de romper com a tipologia de investigação em redoma, isto é, de uma investigação apenas circunscrita à sua área específica de saber; e a opção por Guimarães, descentralizando-nos de Lisboa, optando por uma cidade e por uma Câmara que não tem medo de apostar na cultura”.
De resto, o interesse pelo tema acabaria por suplantar as melhores expetativas da Organização. “Pedimos, desde já, desculpa pelos ‘nãos’ que tivemos de dizer a muitas propostas de comunicação que nos chegaram, até ao último minuto; mas não nos era de todo possível alargar os dias do Congresso! A loucura dos inúmeros pedidos para comunicações acompanhou, na mesma intensidade a loucura do tema!”, justifica Eugénia Magalhães.
Paulo Jorge Alves, que presidiu à Comissão Científica do Congresso Internacional, destaca a pertinência da reflexão que ali esteve em causa: “Abordar a Morte com o conhecimento, a experiência e a reflexão multidisciplinares é um enorme exercício de intervenção na essência da condição humana”.
“Aprender a saber da presença da Morte, educar e integrar a realidade final no processo de crescimento e normalização do Humano, nas múltiplas sociedades em que este se incluiu, foi a tarefa para a qual quisemos contribuir”, explica.
Na sua mensagem final aos congressistas, Paulo Jorge Alves confirmou ter sido possível “uma abordagem cultural, plural e interdisciplinar” e, em concreto sobre o tema da Morte, concluiu que, “depois de termos falado tanto de Morte e de Vida, saímos daqui mais comprometidos com a esperança”.
Embora mais apostado na qualidade do que na quantidade, o Congresso Internacional pode ser contado em números: mais de 100 comunicações de 11 áreas temáticas, 4 mesas redondas e participantes de 5 nacionalidades. Na organização, com a Câmara Municipal de Guimarães como parceiro premium, o Congresso contou com 33 entidades associadas.
A riqueza das intervenções foi evidenciada pelos congressistas, pela multiplicidade de perspetivas, científicas, culturais, artísticas, etnográficas, entre outras, com que se pôde refletir o tema da Morte, como um “mosaico multicolorido e multifacetado”, “num encontro sadio e sereno”, nas palavras de D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, que também participou no Congresso.
Adelina Pinto, vereadora da autarquia municipal de Guimarães, referiu o “ambiente calmo, sereno e de partilha com que o congresso decorreu”. “Não é à toa que Guimarães tem o selo da cultura”, disse.